O catarinauta (1)

dantem1120406.jpgMarcos Pontes não foi o primeiro astronauta brasileiro. O primeiro brasileiro no espaço foi o catarinense Charles Conrad, terceiro homem a pisar no solo da Lua, nascido na pequena localidade de Maratá, município de Porto União.

"O menino Charles nasceu na casa onde eu moro agora, ele é brasileiro e foi naturalizado americano quando os pais resolveram mudar-se para a América do Norte", declarou José Rehme, tio do astronauta, em novembro de 1969.

Em Porto União, quando o velho José Rehme contava que o sobrinho era um astronauta americano, ninguém lhe dava crédito. Causava apenas curiosidade e a história se transformou em lenda, que não correu além do Rio Iguaçu, fronteira entre o Paraná e Santa Catarina e que divide União da Vitória, no Paraná, de Porto União, em Santa Catarina.

Pudera, um sem-número de papas já havia nascido em Santa Catarina.

Verdade ou fantasia, a história foi caindo no esquecimento até que a missão Apollo 12 foi lançada em 14 de novembro de 1969, com os astronautas Alan Bean, Richard Gordon e Charles Conrad Junior, o comandante da missão. Seu objetivo era pousar na região lunar conhecida como Oceanus Procellarum e desenvolver alguns experimentos científicos. Teriam eles já experimentado "a germinação de sementes em microgravidade", a missão de Marcos Pontes?

Para o velho José Rehme, não importava o objetivo da missão. Importava era dizer, mais uma vez, aos incrédulos de Porto União que o sobrinho agora era mais importante: "Foi à Lua, mas nasceu no Brasil".

A lenda ganhou vida, o velho José Rehme ganhou credibilidade. Rapidamente, a incrível história se espalhou. Uma rádio local deu a notícia e era só do que se falava nos bares e no grande salão de baile de Maratá, onde os alemães deixavam os filhos numa creche anexa para poderem dançar nas noites de sábado. Os políticos locais se mobilizaram para descobrir se aquilo fazia sentido. A Prefeitura de Porto União, mesmo às voltas com as eleições que ocorreriam no próximo dia trinta, mandou emissários à procura de José Rehme, sua irmã Elisabete, primos e conhecidos da família Conrad, que emigrou em 1940 para a América do Norte.

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Quando Charles Conrad Jr. pisou no solo lunar em 19 de novembro de 1969, no dia seguinte os repórteres Moraes Neto e Agenor Santos já estavam em Porto União para levantar informações e documentos para uma série de reportagens para o jornal O Estado do Paraná, que teve o seu início na edição n.º 5.537, uma sexta-feira 28 de novembro, com a seguinte manchete no alto da primeira página:

"Conrad, herói da Lua, é catarinense".


 

Na próxima sexta-feira conto o resto da história que ganhou o mundo e fez a população de Porto União exclamar em júbilo: "A Terra é azul, viste?".